segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sobre o BBB, os zoológicos e o fim do mundo (das idéias, talvez)

Voltando de viagem, li uma notinha em uma revista de circulação nacional que destacava as exigências pouco convencionais de alguns artistas estrangeiros para se apresentarem no Brasil. Dentre elas, uma banda pedia uma visita ao Jardim Zoológico.
Não tenho dúvida de que pedido tem a ver com certa concepção dos estrangeiros acerca do exotismo da Terra brasilis. Mas se a questão é confirmar os estereótipos do “mundo selvagem” (ou da selvageria), cogitei se não seria mais interessante levar a tal banda para ver o Big Brother Brasil. Afinal, os animais dos zoológicos, além de não serem todos da fauna brasileira, não optaram por estar ali. Além disso, conservam certa altivez, algo instintivo.
No BBB, os animais optaram por ali estar, abrem mão de qualquer vestígio de civilização, cultura e humanização e colocam-se a mercê dos “instintos artificiais”. Sim, instinto artificial… os instintos servem para nos manter vivos… a gente come, bebe, vai ao banheiro e tem desejos sexuais com intuito de sobreviver. A cultura (as culturas) contextualiza e condiciona esses instintos, mas quando a mídia de massa coloca seres humanos em situações nada reais, ela nega a cultura e o bom gosto e o que temos é um festival de horrores. Ali, a única coisa que se mantém viva é essa mídia que se alimenta da nossa ignorância e, num círculo vicioso, nos aprisiona ao pior de nós mesmos.
Alguns dirão que essa fórmula não foi bem sucedida apenas no Brasil e que uma dose de voyeurismo (essa satisfação de refestelar com a vida alheia) é até saudável. O problema é que em um país onde a educação tem sido atribuída apenas à instituição escolar e a educação escolar ainda capenga, a mídia faz mais estrago. Também tenho minhas dúvidas se em algum outro lugar transformaram as diferenças tão efetivamente em anomalias, reproduzindo racismo, homofobia, cultura dos corpos e ode à juventude.
Agora, violência sexual também faz parte da grade dos horrores e tudo tratado como “natural”. Ninguém faz nada? Faz… Assiste a tudo! Quanto ao voyeurismo, aviso “aos navegantes”, aos “heróis da vida real” que aquilo não é vida real, assim, não há o que observar. Àqueles que gostam de observar a vida dos outros observem vidas de quem nos lembram do que é ser humano… vão estudar história, ler uma biografia relevante. Ou vão simplesmente viver… Quanto ao fim do mundo proclamado para 2012, deve ser o BBB ou nossa apatia diante das coisas. A apatia é o fim!

(Érica Melanie)

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