Tudo novo, de novo

De todas as memórias atentas que meu coração pode acionar, não me lembro de ter vivido uma tarde de domingo tão esplendorosa e arrepiante como foi nesse dia 08 de abril, Domingo de Páscoa. Contemplando o belo horizonte da serra do Curral, nos frescores do Parque Mangabeiras, presenciei, ou melhor, vivenciei intensamente um grande espetáculo musical, um verdadeiro presente de Páscoa. Maria Rita “duelando” por mais de duas horas no palco, com uma doce apresentação em homenagem a sua mãe e a nossa querida Elis Regina. Após evitar durante anos se apresentar em público com o repertório da Pimentinha, Maria Rita, com carreira consolidada, brindou quase 10000 pessoas (teriam sido mais, não fosse a pressão da Associação de Moradores) com cerca de 30 canções eternizadas por sua mãe, falecida em 1982.
Belas canções que mesclaram a ousadia e a intensidade da mãe e descaramento da filha. Maria Rita cantando com sintonia e encanto as belas melodias poéticas lançadas no passado na voz de Elis. Mas que passado? Tudo continua como se fosse a primeira vez e, de certa forma, foi a primeira vez. É muita luz pra ficar no fundo do baú e Maria Rita mostrou que tem sua própria verdade para cantar, atribuiu nova roupagem, fez tudo novo de novo!
Pude sentir como se Elis estivesse no palco, assistindo a mais nova invenção de suas músicas. O público foi flutuando em meio às bolhas de sabão que nós mesmos fazíamos no ar. A cada sopro, a emoção enraizada do palco, nos tirava do chão e feito as folhas das árvores que balançavam, dançamos! A leveza na voz de Maria Rita era a veia certeira que fazia bater os corações.
Sobre o esplendor musical dessas “pequenas grandes cantoras”, bem expressado pela Érica, nossa companheira inestimável, não cabe mais nenhuma palavra que não seja a da genialidade da música. “É um mistério profundo...” “É um passo, uma ponte...” É o que nós dá coragem, pra seguir viagem. E ao relembrar as canções de Milton cantadas por Elis, Maria Rita ainda solta: Minha mãe costumava dizer, que se Deus tivesse voz, era a de Milton Nascimento. Ah! “E se eu quiser falar com Deus?”
E assim, já se despedindo do dia, Maria Rita iluminou a noite que chegara. “Ilumina-me na escura e funda o trem da minha vida” e deixou Belo Horizonte feliz, “como se fora a brincadeira de roda”. A semana não poderia começar melhor, porque “até a lua arrisca num palpite”, que Maria Rita existe para continuar o amor que Elis iniciou. Mas que de Elis, o amor é permanente; e de Maria, o amor é profundo. Viva Elis! Viva Maria Rita!




Bruna Neto