quinta-feira, 26 de julho de 2012

Guerra Alucinógena

O ano era 1967. Verão do amor, revolução de costumes, movimento hippie. Jimi Hendrix “tocando fogo” em sua guitarra no festival de Monterrey e os Beatleas lançando “Sgt. Peppers. Esse clima psicodélico marcou o ano e colocou três letrinhas no dicionário daqueles tempos: LSD, o ácido lisérgico.
Em 1943, o químico suíço Albert Hofmann estava no laboratório pesquisando alcaloides de um fungo quando começou a se sentir estranho e ter alucinações. Hofmann posteriormente investigou quais poderiam ter sido as causas da “viagem acidental” e concluiu que poderia ter absorvido, através da pele, a substância que tinha acabado de produzir: a dietilamida do ácido lisérgico, sintetizada por ele cinco anos antes. Para confirmar as suspeitas, ele tomou uma dose dissolvida num copo d`água. Rindo feito criança, saiu de bicicleta pelas ruas, vendo cores mais vibrantes. Dessa vez não foi nada acidental, e sim a primeira “viagem” de ácido voluntária que se tem notícia.
Na década de 1960, o consumo alcançou seu auge, muito em função da “nuvem psicodélica” que cobria aqueles dias, e também por um certo Timothy Leary, psicólogo, neurocientista e grande disseminador do LSD. Se o ácido era bastante popular entre artistas ou simplesmente entre quem queria “ficar doidão”, também foi usado em interrogatórios de órgãos e departamentos de investigação americanos.
Era começo dos anos 1960. George White se sentou e se pôs a tomar Martini e a observar prostitutas e seus clientes tomando LSD no apartamento que ele alugara em San Francisco. A cena fazia parte do projeto Clímax da meia-noite, e a missão de George, que pertencia à divisão de narcóticos da CIA, era pesquisar a ação de drogas psicodélicas para o governo americano. O oficial analisava o comportamento das pessoas, que nem suspeitavam estarem sob o efeito de LSD. A conclusão foi de que os testes com drogas poderiam ser usados em interrogatórios para desinibir o indivíduo, deixando-o indefeso, respondendo a qualquer pergunta sem nenhum tipo de restrição. White sugeriu aos superiores e a CIA começou a usar o método. Segundo uma matéria da revista TIME, de 1977, “ mulheres atraíram os rapazes para esconderijos e lhes davam LSD ou maconha, enquanto outros homens olhavam através de um falso espelho e gravavam a cena. As mulheres, aparentemente prostitutas clandestinas, ganhavam 100 dólares por cada trabalho para a CIA”.
A paranoia da Guerra Fria também levou o governo americano a desenvolver técnicas para controlar a mente do interrogado. A CIA acreditava que os soviéticos faziam práticas similares, então, em 1953, foi criado o projeto MKUltra, também com o objetivo de conseguir, com LSD, mescalina, cogumelos e outras drogas, o “soro da verdade.”
Os testes eram realizados com todo o cuidado possível, nada podia vazar. Porém, a trama veio à tona. James Thornwell, um soldado negro americano, foi acusado de traidor por um suposto roubo de documentos secretos.O soldado, então com 22 anos, foi preso em Paris e levado a um apartamento, onde foi confinado e torturado por seis semanas. Como não revelou o que queriam, agentes deram a ela LSD em uma dosagem forte. James ficou paranoico, teve um ataque de histeria, mas não falou nada e os agentes acabaram soltando-o. O soldado pediu indenização à justiça americana. Vinte anos depois, recebeu 650 mil dólares e nunca mais foi visto.
Às margens do rio Ródano, Pont-Saint-Esprit é uma comunidade localizada na região de Languedoc-Roussillon, no sul da França, a 543 quilômetros de Paris. Seus poucos mais de 10 mil habitantes, segundo censo de 2005, devem saber que a pequena cidade foi cenário de um mistério digno de livros policiais. Em 1951, Saint-Esprit foi assolada por alucinação coletiva de dar inveja às viagens malucas do Grateful Dead pela Costa Oeste americana.
A população da cidadezinha, em total delírio, via demônios e fantasmas em todas as esquinas, pessoas tentavam fugir de cobras imaginárias. Tem até a história de um menino de 11 anos que tentou estrangular a própria mãe. Duzentas pessoas tiveram algum tipo de distúrbio, mais de 30 sofreram alucinações severas e quatro morreram. O caso ficou conhecido como Pão Maldito, na época, culpou-se um padeiro, que teria vendido pão envenenado. Hipótese que o repórter investigativo e escritor Hank Albarelli Jr. refuta. Em seu livro A Terrible Mistake (2010), ele diz que se trata de mais uma experiência a CIA com LSD. O livro é centrado na obtusa morte de Frank Olson, químico da CIA que estava em Saint-Esprit no surto coletivo e nos experimentos do serviço e inteligência americano durante a Guerra Fria. Albarelli afirma que suas investigações e os documentos que conseguiu reunir levam a crer que Frank foi assassinado por ter vazado informações secretas.
Ainda há muitos casos que merecem profunda investigação, diz o escritor. Para Albarelli, isso não e coisa do passado: a CIA só não pensava que o LSD poderia ser o “soro da verdade”, como continuaria, juntamente com o governo dos Estados Unidos, usando em seus interrogatórios.

(Oséias Rodrigues)

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