sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Os novos tempos das biografias

Pessoal, corromperam a função comunicativa de um gênero literário! Até onde eu sei (devo reconhecer que esta não é minha especialidade), biografias são obras que visam trazer a público aspectos importantes sobre vidas relevantes.
Sou de uma época (não tão distante assim) na qual para se fazer jus a uma biografia, uma pessoa deveria ter impactado, bem ou mal, uma sociedade, uma época e quiçá a humanidade. Além de uma vida singular, o candidato a biografado deveria fornecer muitos elementos para preencher centenas de páginas Assim, pressupõe-se que a pessoa deveria ter vivido bastante tempo ou que tivesse tido uma trajetória bastante singular.
Como função literária, se assim posso dizer, a biografia podia encantar, chocar, abrir perspectivas, criar heróis ou destroná-los. Da parte dos biografados, se exigia certo desprendimento, seja da vida, no caso das biografias post mortem ou do orgulho, no caso das biografias não autorizadas. No caso específico das autobiografias, se por um lado, havia um registro de vaidade, por outro se tinha uma análise profunda e emotiva.
Bem, assim eram as biografias. Recentemente acompanhei, não sem certo espanto (sim, eu ainda me espanto) o lançamento de biografias de celebridades instantâneas ou de personalidades ainda muito jovens, com muito que fazer da vida ainda. Após o lançamento da biografia de Obama (tá bom, ele é presidente dos Estados Unidos e recebeu o Nobel da Paz), tivemos um astro pop que recentemente assumiu a homossexualidade (alguém duvidava?) narrando as suas memórias e uma jovem que ficou famosa por usar um microvestido rosa na faculdade contando tudo sobre… o quê mesmo? E não para por aí! O jovem Justin Bieber (quantos anos ele tem mesmo? 16?) também teve uma biografia publicada recentemente. Poderia citar, ainda, o cantor sertanejo Luan Santana e o cantor-filho Fiuk, ambos com menos de 20 anos e… biografados. Com todo respeito, o que têm de tão importante para contar jovens tão jovens que precisem publicar uma biografia. Será que um blog ou outra mídia não seriam o suficiente para manterem informadas as fãs dos rapazotes.
O mercado editorial das biografias parece que foi contaminado pelo mal do efêmero: fofocas e curiosidades em doses homeopáticas. Para os que gostam do gênero, alguns bálsamos estão no mercado: ótimas biografias de Lobão e Chico Xavier.
Aguardem! Em breve, a minha!

(Érica Melanie)

4 comentários:

Joelma Paulino disse...

Muito bom Érica!
Adoro ler o que você escreve, vou aguardar a sua biografia.Porém você
vai concordar comigo que falta muito tempo ainda né??? Você é poucos anos mais "experiente" que o Justin Bieber....hehehe

Beijos

Parabéns ao pessoal do blog...

Rodrigo Vieira disse...

Putz, a biografia do Justin eu sabia, mas que o Feiuka (quer dizer Fiuk)é novidade pra mim. Daqui uns dias até pra Cachorro tem Biografia!

Bruna Neto disse...

Se la no passado muitos passaram um bom tempo se remexendo no túmulo até que viessem suas biografias, hoje esboços de vidas estão sendo biografados!
Uma vaia para essa confusão total
Um viva para o texto da Érica que relata muito bem o papel precário das editoras em desenvolver breves vidas biografadas!

Alfonso Chíncaro disse...

Acredito que o título para essas obras deveriam ser algo do tipo: “curiosidades sobre a vida de ...”. Devo concordar que o termo biografia soa um tanto estranho para essas publicações. Lembro-me do livro OLGA de Fernando Morais, que minha professora de História do Ensino médio tomou como leitura obrigatória, esta sim uma biografia de verdade (se é que existe biografia de mentira).
Mas acontece que o mercado editorial apenas atende a demanda de um público afim de curiosidades efêmeras a respeitos de seus ídolos. Sem querer generalizar, vivemos em uma sociedade de relacionamentos efêmeros, onde as pessoas “ficam” talvez no intuito de suprir suas carências afetivas. Que por sinal é muito humano. Mas quis o destino que numa “dessas” tenha perdido a fé nas pessoas das quais ainda sinta uma grande afeição.